Jornal Povo

Pedido de aumento da segurança de Lula gera divergência na PF

O número de agentes da Polícia Federal encarregados de fazer a segurança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante uma viagem do candidato a Brasília gerou divergências na corporação. Os responsáveis pela proteção do petista tiveram um pedido de aumento de contingente parcialmente negado pelo comando da PF, mesmo depois de já terem manifestado preocupação com episódios de violência conta aliados e apoiadores do presidenciável.

Exceto o presidente Jair Bolsonaro (PL), permanentemente acompanhado por homens do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), todos os candidatos ao Palácio do Planalto têm direito a contar como um número fixo de policiais durante o período eleitoral. Essa equipe pode ser ampliada quando uma determinada agenda for considerada de maior risco. Nesses casos, a campanha deve solicitar o aumento de efetivo à superintendência da PF no estado em que ocorrerá o compromisso do presidenciável.

A PF atribui a cada postulante um grau de risco a que ele está submetido, que varia de 1 a 5. Lula está no maior nível. Na última viagem do petista a Brasília, no final de julho, a equipe da PF que o acompanha pediu a cessão de cerca de 30 agentes para fazer a sua segurança. A superintendência da corporação no Distrito Federal, no entanto, disponibilizou a metade do solicitado.

Naquela oportunidade, a equipe de Lula pleiteou o apoio de 14 agentes, seis policiais do grupo tático — a equipe de elite da PF, com treinamento e armamento especializado, usado para situações de alto risco —, e policiais específicos para varredura dos locais das agendas, segurança fixa no hotel de Lula, situação de flagrante e agentes para abastecer a equipe com informações de inteligências durante os eventos.

O número, contudo, foi questionado pela superintendência do DF. O superintendente, delegado Victor Cesar dos Santos, afirma que ao pedir cerca de 30 policiais a equipe do petista não especificou um plano de ação para o emprego dos servidores.

— Questionamos o critério de segurança dele. Temos um padrão a ser seguido, com normas internas de segurança. Como vou justificar se um número é pouco ou muito se não tenho a formatação da segurança, onde é o evento, se é aberto ou fechado, como os agentes serão empregados. Tem que olhar isso com cuidado — diz o superintendente ao GLOBO.

Nestas datas, Lula participou de uma palestra na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) dentro da Universidade de Brasília (UNB) e da convenção nacional do PSB, no auditório de um hotel em Brasília, ambos ambientes controlados.

Diante do impasse, a direção-geral da PF definiu que um contingente de 12 a 15 policiais seria suficiente para garantir a proteção do petista nos dias 28 e 29 de julho, quando ele estaria na capital.

— Se entendeu que essa quantidade era necessária para garantir a segurança. E foi garantido. Não teve nenhuma intercorrência. Uma coisa é o nível de risco do candidato, outra coisa é a realidade que ele vai viver naquele momento — afirma o superintendente.

Apoiadores de Lula e Bolsonaro fazem guerra de narrativas sobre adesão popular

O GLOBO apurou que o número estabelecido desagradou à campanha do petista. Reservadamente, agentes que acompanham Lula dizem que as superintendências dos demais estados visitados até então pelo candidato atenderam às demandas apresentadas por eles. Desde que a PF iniciou a operação de segurança do Lula, após a convenção do PT, em 21 de julho, o candidato viajou, para Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí. A segurança de Lula é liderada pelos delegados federais Andrei Augusto Passos Rodrigues, Rivaldo Venâncio e Alexsander Castro Oliveira.

O pedido de apoio à superintendência do DF foi amparado em outra comunicação, que já havia sido feita. O conteúdo desse ofício foi revelado pelo jornal “Folha de S.Paulo”. O primeiro documento havia sido enviado às superintendências localizadas nas 27 unidades da federação. Nele, os policiais encarregados da dar proteção ao petista manifestaram preocupação com episódios de violência que envolveram apoiadores dele que, diante desse cenário, contavam com o apoio das praças quando fosse necessário.

A equipe de Lula citou como exemplo o assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, morto a tiros por um policial penal bolsonarista, além de terem informado que personagens do entono do petista teriam sofrido ameaças.