Jornal Povo

Plano de resgate de chefes de facção prevê uso de helicópteros e mercenários

O plano de resgate de lideranças da facção paulista presas em penitenciárias federais, que desencadeou uma operação da Polícia Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) na manhã desta quarta-feira, é uma continuação do arquitetado em 2018 em São Paulo, segundo fontes ligadas à investigação. A fuga atual contaria com a contratação de mercenários e o uso de helicópteros.

De acordo com uma fonte do Depen, o financiador do plano é o mesmo de antes, o narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, que já foi o maior fornecedor de armas e drogas da organização criminosa. Segundo o Depen, o resgate do plano atual já teria sido pago por Fuminho e a operação continuará em andamento, em busca de outros envolvidos. Entre os presos a serem resgatados estão lideranças como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, Cláudio Barbará da Silva, o Barbará, e Valdeci Alves dos Santos, o Colorido.

Amigo de infância e braço-direito de Marcola, chefe da facção, Fuminho não é integrante da organização criminosa. Mas há décadas fornecia armas e drogas para o grupo. Segundo promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, Fuminho passou anos escondido na Bolívia, de onde comandava o tráfico de toneladas de cocaína para a facção paulista, e depois fugiu para a África do Sul. Fuminho foi preso em Maputo, em Moçambique, em 2020, e entregue a autoridades brasileiras por entrada ilegal no território nacional. Ele está preso na penitenciária Federal de Catanduvas (PR).

O primeiro e segundo escalão da fação paulista foram transferidos para penitenciárias federais em fevereiro de 2019. Segundo apurou a reportagem, a expectativa inicial de Marcola era passar pouco tempo no sistema federal. Ao compreender que sua permanência poderia durar mais, ele ressuscitou o plano de resgate iniciado em São Paulo.

Foto: Marcos Camacho, conhecido como Marcola e apontado como um dos chefes da facção criminosa paulista / Reprodução

– A partir da transferência, com o isolamento efetivo dessas lideranças, qualquer passo do preso é monitorado. Conseguimos frustrar o resgate devido à eficácia do isolamento e à atuação na polícia judiciária na rua, que persegue quem executa os planos. Com isso, a própria liderança da facção está rachada – afirmou o integrante do Depen.

De acordo com a investigação da PF, uma rede de comunicação integrada por advogados que atuam para a facção atuou na organização do plano “ao transmitir tanto as cobranças dos custodiados quanto os retornos das mensagens dos criminosos envolvidos no resgate”. Como a comunicação entre advogados e presos é feita em parlatório, sob monitoramento integral, foi criada uma “linguagem própria para o plano de resgate, baseada em termos jurídicos”, segundo fontes do Depen. Entre as frases usadas estão “O novo escritório de advocacia já foi contratado?” e “A equipe já está pronta?”.

Uma das estratégias identificadas para o provável resgate foi o plano de sequestrar autoridades do Depen para trocá-las por presos e, ainda, atentar contra instalações do órgão para conseguir a soltura de criminosos presos nas penitenciárias federais.

Batizada de Anjos da Guarda, a operação da PF e Depen contou com cerca de 80 policiais federais e cumpriu 11 mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão em três unidades da Federação: Distrito Federal (Brasília); Mato Grosso do Sul (Campo Grande e Três Lagoas) e São Paulo (capital, Santos e Presidente Prudente).

Plano anteriores

O plano de resgate arquitetado ainda em São Paulo, para resgatar lideranças da penitenciária de Presidente Venceslau, no interior do estado, envolveria três equipes com um total de 80 mercenários, possivelmente africanos, de acordo com investigadores. Uma delas bombardearia a estação de distribuição de energia elétrica e o batalhão da cidade, de modo que os policiais não conseguissem sair para dar reforço. Uma segunda fecharia os dois sentidos da Rodovia Raposo Tavares, onde se encontra a penitenciária, com caminhões em chamas. A outra invadiria a prisão a fim de libertar dez detentos, além de distribuir armas para que outros tentassem a fuga por conta própria.

O plano ainda contaria com o assassinato de desafetos de Fuminho, o uso de lança-mísseis e metralhadora ponto 50, capaz de derrubar aeronaves, além de dois helicópteros.

Não seria a primeira vez que líderes do PCC tentariam fugir da penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau. Em fevereiro de 2014, o próprio Fuminho foi apontado como financiador do mais audacioso plano de resgate de Marcola. Os bandidos montaram uma base em Porto Rico, no Paraná, de onde deflagrariam uma operação para tirar o chefe da facção e outros três líderes detidos com ele. O plano foi frustrado antes de acontecer.