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Coroação de Charles III testa humor dos britânicos

Rei Charles III do Reino Unido acena para pessoas na porta do Palácio de Buckingham, em Londres, em 5 de maio de 2023. — Foto: Toby Melville,/ pool via AP

Charles III esperou mais de meio século pelo momento em que terá sobre sua cabeça a coroa de Santo Eduardo, com 2,23 quilos – a mesma usada há 70 anos pela mãe Elizabeth.

O rei tentou reduzir o peso da coroação com uma cerimônia mais enxuta e inclusiva, que se adequasse ao estado atual do humor dos britânicos: 64% de seus súditos simplesmente dizem não se importar com o espetáculo programado para este sábado.

Numa manobra arriscada, Charles optou por conferir a sua popularidade, convidando os britânicos a jurarem em voz alta lealdade ao rei, num coro de milhões de vozes que estarão conectadas à cerimônia. Em vez disso, colheu reações irritadas.

“Não é o povo britânico que deve jurar lealdade ao rei. É o rei quem deve jurar lealdade ao povo britânico”, afirmou o jornal “The Guardian”, em editorial, que classificou o convite como humilhante e absurdo.

A apatia dos britânicos com a realeza se acomoda na realidade de alto custo de vida, inflação de dois dígitos e periódicas greves por aumento de salários, numa linha inversa aos gastos com a coração, estimados em torno de US$ 125 milhões (cerca de R$ 620 milhões).

Um em cada cinco súditos de Charles III vive na pobreza. A mesma porcentagem defende que o Chefe de Estado seja eleito democraticamente.

As controvérsias desencadeadas pelas confissões do filho Harry, as especulações sobre racismo na realeza e os apelos por reparações históricas em países da Comunidade Britânica tornam complexo o novo reinado.

Não que a miscelânea de sentimentos ponha em risco a monarquia, que está enraizada na vida do país. Mas Charles parece ter a percepção do humor de seus súditos e tenta amenizá-lo com um tom de modernidade.

A pompa e a liturgia seguem fortalecidas, mas com notas inovadoras, como a participação de bispas e hinos em diversos dialetos. A cerimônia terá a quarta parte dos convidados da coroação de Elizabeth II, num sinal de que o rei está comprometido com a economia e o meio ambiente.

Ele será ungido com óleo vegano e descartou a Coroa da Rainha Mãe, que tem incrustado o Kohinoor, um dos maiores diamantes do mundo, também associado à pilhagem colonial.

Tantos cuidados serão suficientes para aproximar o monarca de seus súditos? Não sabemos ainda, mas Charles e a rainha consorte Camilla souberam esperar e tiveram bastante tempo para exercitar o dom da paciência.