Jornal Povo

Chuva deixa mortos em Japeri; em Nova Iguaçu, jovem resgatou gêmeos de 1 ano de carro levado pela enxurrada; VÍDEO

A família de Carlos, morador de Engenheiro Pedreira, em Japeri, viveu um pesadelo após as chuvas que atingiram o município, nesta quarta-feira. A casa em que ele e outros dez parentes viviam, na Vila Carmelita, ruiu. Carlos e outras pessoas logo começaram a cavar os destroços para encontrar quem estava sob a lama. Mas não conseguiram salvar o pequeno Calebe Jefferson Veloso Costa, de 1 ano, neto dele. Ao Bom Dia Rio, o homem fez um desabafo.

“Estou muito abalado, são anos nessa luta. Foram diversas enchentes. Tenho que agradecer porque conseguimos tirar a menina. Mas infelizmente o menino demorou mais”, disse ele, informando que as duas crianças eram irmãos gêmeos.

A menina, chamada Jade, se machucou. Calebe, segundo parentes, teria ficado imprensado perto de um fogão e a família suspeita de que ele possa ter inalado gás.

Calebe e Jade foram deixados na casa pela mãe, Cristiane, que estava com o próprio imóvel alagado. Logo que ela deixou a residência, ocorreu o desabamento.

O menino Caleb, morto após deslizamento em Japeri — Foto: Reprodução/TV Globo
O menino Caleb, morto após deslizamento em Japeri — Foto: Reprodução

“Minha casa estava toda alagada. Peguei ele no meu colo e coloquei ele aqui. Quando cheguei, estava tudo caindo. A Defesa Civil chegou depois. Depois que meu filho estava em óbito aqui dentro”, disse ao Bom Dia Rio, muito abalada.

Falta de assistência

Carlos se queixou da falta de assistência por parte das autoridades municipais. Segundo ele, há obras sendo feitas perto de sua casa, com maquinário sendo utilizado:

“Um bairro desse, em obra, e não existia uma máquina que pudesse nos ajudar? (Japeri) É um município onde não existe suporte. Sempre foi essa luta, sempre foi essa guerra”.

“Minha casa estava toda alagada. Peguei ele no meu colo e coloquei ele aqui. Quando cheguei, estava tudo caindo. A Defesa Civil chegou depois. Depois que meu filho estava em óbito aqui dentro”, disse ao Bom Dia Rio, muito abalada.

Falta de assistência

Carlos se queixou da falta de assistência por parte das autoridades municipais. Segundo ele, há obras sendo feitas perto de sua casa, com maquinário sendo utilizado:

“Um bairro desse, em obra, e não existia uma máquina que pudesse nos ajudar? (Japeri) É um município onde não existe suporte. Sempre foi essa luta, sempre foi essa guerra”.

Morador de Japeri, Carlos perdeu o neto de 1 ano — Foto: TV Globo/Reprodução
Morador de Japeri, Carlos perdeu o neto de 1 ano — Foto: Reprodução

Segundo Carlos, momentos antes de a casa ruir, o filho foi até a rua para pedir um cigarro. Por isso também não foi engolido pela lama.

Mulher também morreu

No local em que uma casa desabou e fez vítima o menino Calebe, o secretário municipal de Defesa Civil de Japeri, Ziel Pavani, divulgou um balanço das chuvas no município.

Além de Calebe, ele confirmou a morte de Ana Caroline Sodré, de 24 anos, num deslizamento no bairro da Chacrinha. No município, desde a chuva da última noite, foram contabilizados 22 deslizamentos, oito desabamentos com perda total de residências — como a que Calebe morreu — e quatro rios que transbordaram. De acordo com o secretário, não há desaparecidos.

Na Rua do Mocambo, no bairro de Engenheiro Pedreira, onde ficava a casa onde Calebe estava, seis residências foram interditadas pelo risco de desabamento. No terreno em que a casa foi abaixo, além do barro, é possível ver colchão, máquina de lavar, fogão e até uma mochila escolar cor de rosa, suja pela lama.

Resgate em Nova Iguaçu

“Não pensei em nada, só queria salvar a vida deles”. A frase é do auxiliar de logística Marcos Vinicius de Souza Vasconcelos, de 20 anos. Na noite desta quarta-feira, enquanto voltava do trabalho no ônibus da empresa e passava por Nova Aurora, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o rapaz se deparou com uma enchente que alagou ruas do bairro e arrastou carros. Em um deles, estavam uma mãe e dois bebês, irmãs gêmeas, de apenas 1 ano. Na hora, ele saltou do coletivo e foi ajudar as três, conseguindo retirá-las do veículo. Todo o resgate foi filmado e durou cerca de cinco minutos.

— O ônibus da empresa mudou a rota porque para onde íamos estava cheio de água. O ônibus seguiu pelo bairro da Alvora e enguiçou. O carro dessa mulher estava na frente e sendo levado pela água. Vi a mulher gritando que estava com criança dentro do carro. A gente foi para porta e ajudamos ela — contou Marcos.

Ele detalhou como conseguiu fazer o resgate:

— Eram dois bebês gêmeos de um ano. A mãe tinha aproximadamente 40 anos. O resgate durou cinco minutos. As meninas (outras passageiras) queriam ajudar, mas elas não conseguiram descer do ônibus. Eu fui, coloquei o pé na roda do carro e peguei as crianças. Eu só queria tentar ajudar e salvar as crianças.

Segundo Marcos, a mãe agradeceu. Ele afirmou, ainda, que não consegue dimensionar o que aconteceu.

— A ficha ainda está caindo — disse.

O auxiliar de logística contou que ele e sua família sofreram perdas em consequência da enchente e estão sem móveis e geladeira:

— Qualquer chuva aqui sempre alaga. Todo começo de ano a gente perde móveis. Essa já é a segunda enchente em que a gente perde móveis.

No vídeo que mostra o resgate, ocorrido na região Marco II, é possível ver as vítimas sendo puxadas pelo braço para um lugar seguro. Logo depois, o veículo é levado pela enxurrada. Em outro ângulo, é possível ver Marcos Vinícius apoiado com a perna esquerda na escada de entrada do ônibus, e com a direita segurando a traseira do veículo. Ele puxa primeiro uma criança, que está aos prantos, e depois ajuda a mulher. Ambas são colocadas dentro do coletivo.