Jornal Povo

Droga com efeitos devastadores preocupa as autoridades de saúde

Drogas K apreendidas pela polícia em São Paulo — Foto: Claudia Castelo Branco

Uma droga nova está se espalhando perigosamente pelas ruas de São Paulo, e com efeitos devastadores para quem consome.

Um cigarro feito à mão, igual aos outros; já outro tem um aspecto incomum: a diferença, mesmo, está dentro deles. A droga, vendida em frascos, é conhecida pela letra “K”, seguida pelos números 2, 4, 9 ou 12, ou ainda pela palavra em inglês “spice”, que quer dizer especiaria. Os nomes são diferentes, mas a substância é a mesma.

Fotos feitas por voluntários de uma ONG que há 4 anos atende jovens que vivem nas ruas de São Paulo mostram o efeito devastador da droga K em crianças de até 8 anos e adolescentes.

“Além de eles apagarem e você não conseguir acordar. Eles ficam muitas vezes em pé, andando, só que eles não conseguem responder. É como se o cérebro desse uma paralisada, uma apagada. Fora isso, eles ficam também muito violentos. Eles têm dores fortíssimas, vômito. De nós darmos comida – tentando ali, sabendo que eles estão dias sem comer -, mas tudo o que eles comem, eles colocam para fora”, conta Vania Lúcia Da Rocha Coutinho, coordenadora do Projeto Gente de Perto.

Vídeos de redes sociais revelam o que seriam reações físicas ainda mais graves. O psiquiatra Thiago Marques Fidalgo, professor da Universidade Federal de São Paulo, conta que essas substâncias surgiram em laboratórios no início dos anos 2000.

“A ideia, muitas vezes, por trás dessas maconhas sintéticas – que são várias -, era de que fossem fármacos, de que fossem medicamentos, com estrutura química semelhante à da maconha, mas que tiveram seu uso deturpado pelo potencial de prazer e de abuso e acabam se tornando drogas”, explica Thiago Marques Fidalgo.

Os primeiros relatos do uso da droga K no Brasil apareceram há cerca de um ano. De lá para cá, as apreensões em São Paulo se tornaram diárias.

Os reflexos também já aparecem na rede pública de saúde. Em 2022, a Prefeitura de São Paulo registrou 98 intoxicações pela substância. De janeiro até agora, já são 216, mais do que o dobroEsse aumento levou a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo a publicar uma nota técnica para orientar os profissionais de saúde sobre como atender quem chega com sintomas provocados pelo uso da droga K.

Em São Paulo, muitos dependentes químicos, que consomem drogas sintéticas, se reúnem na Praça da Sé. Quando amanhece, os agentes da prefeitura circulam pela região para prestar assistência para essas pessoas.

Um menino de 14 anos, que vive nas ruas desde os 8, conta que fuma drogas sintéticas todos os dias.

“Só K9 e K2. Passando disso, pó, crack, nunca usei. Só K9 e K2. Eu fico tranquilo, saio andando suave. Porque tem uns meninos que fumam e não consegue andar, ficam desnorteados”, ele.

O Rodrigo, de 26 anos, também é dependente químico de outras drogas, e diz que a K9 é a pior de todas as que já usou.

“Eu experimentei uma vez. É uma droga horrível. Porque você se sente fraco, você não tem força, ela te toma, sabe? Ela te toma para ela, onde que você não consegue fazer nada. Mesmo você querendo dar um passo à frente, você não consegue. Ela acaba com seu cérebro”, diz Cauê.

Efeitos tão variados e nocivos que nem as autoridades de saúde sabem ainda como enfrentar.

“A gente tem notado que a apresentação, os efeitos do uso da droga, são muito diferentes. O que é um desafio para a gente efetivar o cuidado, fazer os cuidados necessários. Tem muitas substâncias que são novas e a gente também está aí tentando entender melhor o que é que está acontecendo”, afirma Mariane Queiroz, coordenadora de Saúde do Centro de SP.