Jornal Povo

Carreira de Helena Witzel foi alavancada com eleição do marido

Antes de assinar contratos com quatro empresas suspeitas de integrar o esquema de corrupção no governo de Wilson Witzel, que lhe renderam R$ 554,2 mil em nove meses, a primeira-dama Helena Witzel teve, até 2018, uma atuação tímida em processos na Justiça, como aponta levantamento do Jornal Povo. Helena, basicamente, atuou em ações de parentes, a maioria em favor do marido. A partir do ano passado, quando foi contratada como advogada pelo PSC, passou a atuar em 12 demandas do partido.

O escritório de advocacia de Helena, aberto em março de 2018, está no centro das investigações porque, segundo os investigadores, era usado para “escamotear o pagamento de vantagens indevidas ao governador”, num movimento semelhante ao usado por Sérgio Cabral com a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.

Relatório da Receita Federal aponta que o escritório da primeira-dama só passou a apresentar declarações de débitos e créditos tributários federais em agosto de 2019, quando começaram os contratos com as empresas investigadas, “o que, em tese, representa não ter tido movimento operacional antes disso”. Na conta bancária do escritório, também só está registrado saldo a partir de agosto do ano passado. Os dados financeiros mostram que os R$ 544,2 mil recebidos pelo escritório da primeira-dama entre 2019 e 2020 foram a maior fonte de receita do casal Witzel desde 2018.

Antes de assinar os contratos com as empresas investigadas, Helena atuava representando o próprio marido em ações. Entre 2000 e 2020, só advogou em sete processos. Em seis, representava Witzel em causas contra empresas de telefonia e Detran. Na Justiça Federal, há um processo em que ela representa o marido contra a União.

Com a eleição do marido, Helena herdou dele a vaga de advogada do PSC, partido de Witzel. Começou em janeiro de 2019, com salário bruto de R$ 21,5 mil. Atua em 12 demandas da sigla. Em Brasília, fez sua estreia junto ao STF em novembro de 2019, numa ação em que o PSC questiona artigos da lei federal que regulamenta a profissão de educação física.

Os três primeiros contratos do escritório foram com as empresas, segundo os investigadores, ligadas a Mário Peixoto, empresário preso. Um quarto contrato, de março, foi com a empresa da família de Gothardo Netto, preso na sexta-feira.

Witzel se defende

Afastado após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador afastado Wilson Witzel disse, ontem, que não tinha conhecimento dos contratos da Secretaria de Sáude, que são investigados por suspeita de direcionamento de licitação e contratação. Em entrevista à “CNN Brasil”, Witzel criticou o Ministério Público Federal, autor da denúncia, e disse que irá provar sua inocência:

Governador concedeu entrevista ontem visivelmente à CNN Brasil
Governador concedeu entrevista ontem visivelmente à CNN Brasil Foto: Reprodução / CNN Brasi

— Nenhum contrato passa pela minha mão. A forma com que o Edmar (Santos) operava era difícil de ser percebida. Ele direcionava as contratações e recebia o dinheiro em espécie, e os servidores têm seus sigilos preservados. Desde o início do meu governo, minha ideia era transferir a operação das unidades de saúde das Organizações Sociais para a Fundação Saúde — afirmou.

Entretanto, somente após as denúncias de contratação irregular e o bloqueio judicial de repasses nos últimos meses, o governo do Rio anunciou um plano de transferência da administração de hospitais e UPAs para a empresa pública do Rio.

Wilson Witzel ainda afirmou que os contratos do escritório da primeira dama Helena Witzel são legais e que sua defesa provará não ter sido fruto de lavagem de dinheiro, como afirma a denúncia do MPF:

— Comigo não foi encontrado dinheiro em espécie ou joias. Tudo o que está sendo questionado foi declarado no Imposto de Renda. Minha esposa está sendo acusada de receber propina, mas isso será demonstrado que se trata de trabalho efetivo, a advocacia dela não começa agora, já é antiga.

Fonte: Jornal Povo